Teff no Brasil - Giroil
Rico em ferro, grão teff é o novo queridinho da alimentação saudável
Quando a corredora de Boston Laura Ingalls descobriu, depois de um exame de sangue de rotina, que tinha deficiência de ferro, foi para a cozinha ao invés de vasculhar a gaveta de remédios. E começou a comer teff. Grão vindo da Etiópia, com o tamanho de uma semente de papoula, o teff tem quantidades naturalmente altas de minerais e proteínas. Laura começou a cozinhar com ele e agora não participa de nenhuma corrida sem ingeri-lo antes.
“É um superalimento para os corredores. Funciona muito bem como uma refeição para antes da corrida e é um grão integral, então libera energia de maneira lenta, exatamente o que eu preciso”, afirma ela.
Algumas pesquisas comprovam suas afirmações. Um estudo conduzido por cientistas da Universidade Metropolitana Manchester, na Inglaterra, descobriu que corredoras com níveis baixos de ferro a quem foi pedido que consumissem pão feito com teff todos os dias durante seis semanas melhoraram seus índices desse mineral.
A principal autora do estudo, doutora Ieva Alaunyte, nutricionista e ex-corredora que participava de competições, conta que conduziu o estudo porque deficiências de ferro são especialmente comuns entre corredoras e atletas de resistência, e o teff pareceu uma boa solução alimentar. "Se a pessoa quiser aumentar seu nível de ferro por meio da dieta, eu sugeriria a ingestão de teff", afirma.
O que dizem os nutricionistas
O interesse cada vez maior no teff é parte de um desejo crescente do consumidor por chamados grãos ancestrais, como farro, quinoa, espelta, amaranto e painço. O teff tem sido usado comercialmente em alimentos como massas, barras de proteína e misturas para panquecas.
Além de rico em ferro, tem muita proteína, e grande parte de sua fibra é de um tipo conhecido como um amido resistente, que em estudos foi relacionada a benefícios à saúde como melhoria dos níveis de açúcar no sangue. Ele também tem mais cálcio e vitamina C do que quase qualquer outro grão e tem muita quantidade de minerais, o que atrai os atletas que fazem esportes de resistência.
Os nutricionistas recomendam o teff como uma maneira de os americanos colocarem mais grãos integrais em suas rotinas alimentares, e as pessoas que possuem intolerância ao glúten usam teff como uma alternativa ao trigo. Um estudo feito entre 1.800 pacientes com doença celíaca descobriu que quem comia teff regularmente havia relatado uma redução significativa dos sintomas.
Julie Lanford, nutricionista que dá aulas de nutrição para sobreviventes de câncer na Carolina do Norte, diz que ela frequentemente recomenda teff porque a maioria dos americanos consome o trigo como seu único grão integral. No entanto, cada planta tem uma mistura única de nutrientes, e alimentando-se com grãos diferentes, “você consegue uma variedade maior deles”, explica. Em casa, Julie usa teff como substituto em cremes de milho e em uma versão de creme de trigo. Ela também cozinha mingaus de teff com tâmaras e mel para o café da manhã. “Meu filho de cinco anos adora”, conta.
Apreensão de produtores
Mas à medida que o teff conquista as cozinhas dos americanos, fazendeiros que vivem a um mundo de distância, na África Oriental, estão vendo a tendência com reservas.
O teff, que foi plantado primeiro na Etiópia há cerca de três mil anos, é o grão mais plantado no país. Ele é responsável por quase 15 por cento de todas as calorias consumidas pela população – grande parte na forma de injera, uma torta ou pão sírio esponjoso, servido com quase todas as refeições. Mais de 90 por cento do teff do mundo cresce na Etiópia.
Mas a maior parte do teff consumido na América do Norte, na Europa e em outras partes do mundo é plantado em lugares como o estado americano de Idaho, Holanda, Austrália e Índia. Isso acontece porque, em uma tentativa de manter o teff acessível no país, o governo da Etiópia praticamente proíbe seus fazendeiros de exportá-lo. O governo impôs proibições de exportação, em parte, por causa do que aconteceu com a quinoa, outro grão ancestral que ganhou status internacional de “superalimento” cerca de 15 anos atrás.
A quinoa é um grão usado como alimento básico em países como Bolívia e Peru há séculos. Mas à medida que o apetite internacional por ele cresceu, houve relatos de que havia se tornado muito caro para boa parte dos latino-americanos, incluindo aqueles que dependiam da quinoa como parte de sua dieta tradicional.
Khalid Bomba, executivo chefe da Agência de Transformação da Agricultura da Etiópia, que supervisiona a produção de teff no país, diz que o país está tentando proteger o suprimento doméstico enquanto o interesse internacional cresce. "Não queremos chegar a uma situação parecida com a da América Latina que começou a exportar quinoa e, de repente, a população local não podia mais pagar pelos grãos", explica.
Cerca de cinco anos atrás, a agência de agricultura lançou um projeto para ajudar milhões de fazendeiros etíopes a aumentar sua produção de teff, e recentemente o governo começou um programa piloto que permite que um pequeno número de fazendeiros comerciais exportem teff para os Estados Unidos e outros países.
Mas o governo da Etiópia está permitindo as exportações apenas de produtos feitos com teff, como farinha e injera, não do grão em si, para impedir que os empregos criados com esse tipo de manufatura deixem o país. "Queremos criar empregos aqui e não exportar teff em grão para que os europeus e os americanos transformem em farinha e criem um mercado de valor mais alto. Preferimos fazer a maior quantidade possível da manufatura aqui na Etiópia", diz ele.
O governo da Etiópia espera transformar o teff em marca protegida, como fez com outro de seus produtos premium, o café, que também teve origem ali. O país planta e exporta uma variedade de grãos de cafés de marca registrada, cada um com sabor e aparência distintos – como o teff, que pode ser preto, marrom ou marfim, e que variam de gosto do amargo a ligeiramente doce.
Um pequeno grupo de startups de alimentos, como a Love Grain, de San Francisco, está tentando incorporar o teff aos alimentos diários dos americanos, como misturas de panquecas sem glúten e tortilhas. "Há muito espaço para ser criativo usando o teff porque é um grão muito versátil", explica Aleem Ahmed, fundador da empresa.
Fonte: Anahad O’connor
Fonte: Anahad O’connor
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